São Paulo
Sim, era ele. Hoje deputado estadual (PT-SP), Eduardo Suplicy apareceu há alguns anos em um vídeo gravado em um show de Mano Brown. Ele aparece dançando, concentrado e sem trespassar do lugar, no meio da plateia. As imagens viralizaram e mostraram a relação de saudação e surpresa que existe entre os dois, reforçada em várias outras situações -em 2015, por exemplo, o político saiu em resguardo do líder dos Racionais, retido por desacato durante uma blitz policial.
Mano e Suplicy, 81, se reencontraram dias detrás, na gravação do novo incidente do podcast Mano A Mano. Desta vez, o petista não estava sozinho. Ele foi entrevistado junto com os filhos, os músicos Supla, 57, e João, 48 -o primeiro, a face do pai, e o caçula, cada vez mais parecido com a mãe, a ex-prefeita Martha Suplicy, com quem o atual deputado foi casado por 36 anos.
O F5 teve aproximação à conversa de duas horas e meia, prevista para chegar ao Spotify nesta quinta-feira (8). A seguir, alguns trechos:
RACIONAIS MCS
Já no primórdio do incidente, o político fala que as músicas do grupo de rap, formado por Brown em 1988, o ajudaram a entender o que pensam os jovens da periferia. O deputado citou um comício do partido em 1994, na zona sul de São Paulo, em que o grupo se apresentou.
“A partir dali, senti uma enorme afinidade com você [Mano Brown]. Aquele rapaz que não tem porquê ajudar na renda da sua família e se torna aviãozinho da quadrilha de narcotraficantes, porquê personagem da música dos Racionais. ‘Um varão na estrada recomeça sua vida / Sua finalidade, a sua liberdade / Que foi perdida, subtraída / E quer provar a si mesmo que realmente mudou.'”
POLÍTICA E RENDA BÁSICA
Ponto-obsessão de Suplicy há murado de 30 anos, o projeto da renda básica, evidente, foi defendida mais uma vez pelo deputado, que explicou e deu detalhes sobre o programa -resumidamente, ele consiste no pagamento de um favor anual do governo a todos os brasileiros ou estrangeiros residentes no país.
“[Isso significa] Maior liberdade e pundonor para todos os brasileiros”, diz Suplicy. O rapper pergunta se Silvio Santos, por exemplo, também receberia um pagamento. “Um recta universal é um recta para todos. Ele contribuiria proporcionalmente à sua renda.”
CRIME ROMANTIZADO
Supla, João e Mano concordam que é difícil manter a fé e confiar em mudanças, mas que Eduardo é uma das poucas pessoas que continua a lutar pelo que quer. O rapper diz que, em 2000, romantizava o violação.
“A veras da quebrada hoje é assalto. O povo está com terror e isso tem revérbero na política e em projetos. Punição não é o caminho, nós sabemos disso, mas isso parece conversa de Racionais. Talvez eu romantizasse um pouco porque sou um compositor e o cenário era horroroso.”
LULA, PATRIOTISMO e NOVA YORK
Supla diz que achou “muito formosa” a heterogeneidade na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 1º de janeiro, e citou as pessoas de diferentes origens que subiram a rampa do Palácio do Planalto para passar a faixa presidencial a Lula.
“Seria muito bom se as pessoas conseguissem se respeitar mesmo pensando dissemelhante. Mas essa não é a veras e é muito triste.” Brown, portanto, pergunta para João se ele se considera patriota.
“Eu senhoril o Brasil, essa vocábulo [patriota] defasou. Mas tenho muito orgulho, senhoril essa mistura e essa miscigenação, que é presente na música também”, responde João. “Quando eu escuto Jorge Ben eu tenho orgulho, no resto do dia dia eu queria estar em Novidade York”, comenta Brown.
DIREITA E ESQUERDA
Quando o matéria é a política, Mano Brown diz que Suplicy “é o face com mais credibilidade hoje”. O cantor Supla portanto faz uma verificação: “Se colocar Bolsonaro ou Doria andando sozinho no núcleo ou em uma quebrada, vão levar uma na ouvido. Papai não, muito pelo contrário”.
FAMÍLIA E MÚSICA
João e Supla contam que são muito diferentes. O principal ponto e geral é o palato pela música: Supla é do rock e João, da MPB e bossa novidade.
“O meu pai sempre passou um exemplo de família unida para a gente, mas brigamos muito. Ontem mesmo”, diz Supla. “Sometimes I want to punch you but I don’t punch you because I love you [às vezes eu quero te socar mas não te soco porque te amo]”, canta ele para o irmão.