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Cristalino: como é o lodge no meio da floresta amazônica – 22/11/2023 – Turismo

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O ponto de reparo da torre fica supra da despensa das árvores. Num relâmpago de 180 graus, por onde os olhos correm, o que se avista é a volubilidade da floresta amazônica. O virente da paisagem nos embevece. Por alguns instantes, temos a sensação de que a mata não tem termo.

A depender do horário, bandos de araras-vermelhas nos passam sobre a cabeça. Apurando o olhar, vemos seus “primos”, os canindés, que logo se aproximam. Nos galhos vizinhos, um par de araçaris, com seus bicos multicoloridos, parece entreter. Vai dar namoro.

Súbito, uma voz potente ecoa. É o cri-crió, um passarinho pequenino, de coloração discreta, de quem quina atravessa o infinito da mata virente.

Dois mirantes, um próximo à sede do hotel de selva Cristalino Lodge, outro do lado de lá do rio de mesmo nome, são usados porquê observatório de aves e de macacos que vivem na segmento subida da mata. São torres de aço de 50 m de profundeza, acessíveis por 250 degraus. Descer não é menos extenuante que subir, mas a recompensa vale a empreitada.

O Cristalino Lodge ocupa um território de floresta no sul da Amazônia quase 70 vezes maior que o parque Ibirapuera. Chegar até lá exige voar de Cuiabá até Subida Floresta. Da cidade, basta seguir de carruagem, tendo a paisagem, por enquanto, tomada por plantações de soja, num trajeto de pouco mais de 20 km até as margens do rio Teles Pires, importante fluxo de chuva da bacia amazônica e um dos afluentes do Tapajós.

A partir daí, o trajeto segue pelo rio Cristalino, já dentro da RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) de mesmo nome, onde fica instalado o lodge com seu catálogo de experiências voltadas para a contemplação e a mergulho na natureza.

Além de aves e primatas, é lá de cima que também é provável considerar, nas manhãs fresquinhas da floresta, um fenômeno chamado de Rios Voadores, formado por massas de ar carregadas de vapor de chuva. Para observar ao espetáculo do vaivém de nuvens, é preciso pular da leito antes das 5h.

Em terreno firme, a suplente Cristalino é riscada por 30 km de trilhas, todas elas largas, de fácil a moderada locomoção, mas que exigem atenção do visitante. Todos os passeios são realizados com barqueiros e guias experientes, que conhecem os trajetos no mato e os cursos de chuva.

Existem duas estações já não tão muito definidas em tempos de crise climática: a seca, de junho a novembro, e a enxurrada, de dezembro a maio, quando costuma chover mais poderoso e rápido. Em ambas, porém, faz calor, com ligeiro frescor ao anoitecer.

Passa do meio-dia de um sábado quente e úmido, quando o grupo de turistas que acabou de visitar a torre de observações caminha pela trilha. O quina dos passarinhos é interrompido por uma movimentação brusca na mata. Ao menos 30 macacos –das espécies macaco-prego e cuxiú– estão em sarau, celebrando o almoço entre figueiras, palmeiras e castanheiras. A barulheira é intensa. Na quebra dos galhos, folhas caem do basta.

Dá para ver que mamãe prego carrega um filhotinho. Um cordão de tocandiras, formigas que podem medir até 3,5 cm, cruza o trajeto. Porquê explica o guia Bruno Fortaleza, 35, que é biólogo, elas são carnívoras e usadas em rituais indígenas de passagem.

No sul da Amazônia, na superfície da suplente, pesquisadores do mundo todo não se cansam de encontrar novas espécies de insetos, répteis, aves e mamíferos. Graças à proximidade com o Pantanal e também com o bioma do fechado, a região recebe transmigração de diferentes animais.

Diante dessa explosão de vida, nós nos deparamos com uma castanheira de 58 m de profundeza. De idade estimada entre 800 e 1.200 anos, ainda produz castanhas. Para abraçá-la, tal o diâmetro do seu tronco, são necessários seis adultos. Qualquer uma das árvores do Cristalino, se vier a tombar, por lá ficará. Toda a suplente é formada por mata primária.

O lodge, por sua vez, com suas 18 acomodações, é totalmente sustentável, do banheiro à compostagem do lixo. A gente vai dormir e acorda conectado à musicalidade da floresta (ah, e tem wi-fi nas áreas sociais). Uma diária nesse pedaço de paraíso custa a partir de R$ 1.950, por pessoa, com todas as refeições, atividades guiadas e transfers do aeroporto de Subida Floresta (MT).

Tanto o hotel quanto a suplente são fruto do esforço de Vitória da Riva Roble, 79, uma protetora da natureza, reconhecida internacionalmente por sua luta em resguardo da conservação. “A floresta é porquê um templo”, diz. “Você tem que pedir licença para entrar. Assim porquê nos templos de crença e fé, ela tem sua pujança.”

Em meio ao vaivém de aves, o pôr do sol no encontro dos rios Cristalino e Teles Pires exibiu uma explosão de cores. O firmamento já estava cravejado de estrelas na hora de retornar ao lodge. A canoa deslizava pelas águas graças à destreza do piloto fluvial Aldo Frank, 49, que aproveita o trajeto para relatar que o Cristalino mede de 35 m a 40 m de largura, chegando a 60 m na embocadura, e que sua profundidade varia de 4 m a 13 m. Ao desligar o motor, ele suavemente se aproxima da margem onde avistamos o jacaretinga, espécie de jacaré que pode chegar a medir 2,5 m de comprimento e a tarar 60 kg.

Quando a trevas se intensifica, um batalhão de insetos flana sobre as águas do rio.

O Cristalino, que passa em frente ao hotel de selva, nasce no extremo sul do Pará, na serra do Cachimbo, em superfície da Força Aérea Brasileira. Seu trajectória é de 114 km até se juntar ao Teles Pires. É pelo rio que sempre nos deslocamos para considerar diferentes ambientes ou simplesmente contemplar os reflexos das árvores espelhados nas águas.

O passeio de embarcação permite observar a anta, o maior mamífero do Brasil, que alcança 300 kg. Numa manhã de passeio, no sentido setentrião, a respeito de 5 km do hotel, um masculino banhava-se na margem esquerda do Cristalino. Imediatamente, o barqueiro parou no meio do rio.

Antas, geralmente, optam pelo isolamento, segundo conta o guia. Elas costumam ser vistas próximas de outros indivíduos da espécie somente em determinados momentos da vida, quando mães cuidam de seus filhotes ou casais estão enamorados. De repente, ouvimos uma espécie de assobio. Num primeiro momento, parecia ter vindo de um pássaro. O guia Bruno Fortaleza logo pede silêncio fazendo sinal com as mãos. Havia mais uma anta na outra margem do rio.

Antas têm por hábito comunicar-se com outros indivíduos da mesma espécie por meio de assobios e estalos. A resposta logo veio do outro lado. Rapidamente, o masculino de cá cruzou o rio, passou por debaixo do embarcação e entrou na mata detrás da parceira.

A paisagem ganha novos contornos conforme subimos o rio. A 20 km do Cristalino, uma vegetação mais densa surge numa superfície alagável, repleta de um tipo de palmeira, a inajá. Nativa da região Setentrião, suas folhas há tempos são usadas pelos indígenas para resguardar as ocas.

Nas veredas dos buritis, o território é de canindés, que, barulhentos, atraem os olhares. É, no entanto, um par de pavõezinhos-do-pará de voz aveludada que, ao ensaiar um ritual de acasalamento, domina a paisagem. Ocultas sob o dorso acinzentado, suas asas, logo abertas em leque, revelam tons vibrantes de laranja e desenhos que lembram raios de sol, mas com extremidades pretas.

A embarcação segue próxima à mote entre Mato Grosso e Pará, lugar em que o Cristalino forma uma lagoa lateral, hábitat de uma das aves mais impressionantes de toda a suplente, a cigana. Geralmente, vive em áreas alagadas, em bandos de até 50 indivíduos. O sistema estomacal dessa ave, também chamada de jacu-cigano, é constituído de vários papos que facilitam a levedação das folhas, frutos e sementes que consome.

No basta de uma árvore de 15 m, um trio de ciganas ostentava sua formosura intrigante: a espécie tem a face azul e um belo e rígido penacho laranja. Inferior delas, borbulhas na superfície da lagoa formada pelo Cristalino denunciavam a presença de filhotes de pirarucu nas águas escuras do rio.

De volta ao lodge, no deque flutuante de aproximação ao hotel, um gafanhoto com quase 20 centímetros, possuidor de uma coloração que passeia do verde-capim ao laranja, segue de antenas ligadas, porém indiferente a quem passa, sem movimentar as patas, que lembram botas de astronautas em versão miniatura. Os encantos da natureza estão por todos os lados da floresta.

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