A grande extensão de praia, rodeada por povoados, sem carros e com muita natureza e tradições de povos nativos fazem da Ilhéu de Boipeba, na Bahia, um cenário único. O aparente estabilidade entre a presença humana e as belezas naturais está ameaçado pela construção de um resort em uma das praias mais bonitas e isoladas: a Ponta de Castelhanos.
No último 7 de março, o Inema (Instituto do Meio Envolvente e Recursos Hídricos), órgão do governo da Bahia de preservação do meio envolvente, autorizou a implantação de um empreendimento milionário chamado Mangaba cultivo de coco. O loteamento de luxo fica em uma superfície preservada de Mata Atlântica que pertence à União.
A portaria 28.063 autoriza o projeto imobiliário que conta com 69 lotes, 25 casas, duas pousadas de 25 quartos, aeroporto, grande estrutura navegação e um campo de golfe que substituirá dezenas de Mangabeiras, árvores frutíferas típicas da região. O empreendimento pode ocupar uma superfície equivalente a 1.700 campos de futebol, correspondendo a respeito de 20% do território da ilhota.
A autorização gerou uma movimentação entre os moradores de Boipeba, contrários à construção, que lançaram um abaixo-assinado e fizeram um perfil no Instagram para dar visibilidade ao caso. De congraçamento com o movimento, “os danos causados seriam irreparáveis para o ecossistema do lugar, indo na contramão do turismo ecológico e sustentável”.
Além dos impactos ambientais, o empreendimento ainda traz riscos à pesca artesanal, a pequena cultura e o extrativismo, atividades que ajudam a manter a identidade coletiva e o modo de vida dos moradores locais.
De congraçamento com o documento divulgado pelos moradores, a implementação do projeto funcionaria também porquê agravante de racismo ambiental, uma vez que os impactos negativos não seriam sentidos por quem chega de helicóptero na ilhota, mas pela população historicamente marginalizada e invisibilizada, em sua maioria, negra.
O embate vem desde 2012 quando a teoria do empreendimento veio à público. Em 2019, o MPF (Ministério Público Federalista) afirmou nas recomendações 01 e 02/2019 do processo 1.14.001.000322/2014-10, que “não existe fundamento permitido para o Inema realizar o licenciamento ambiental de um empreendimento sem a concordância do proprietário do imóvel em que será instalado, mormente em se tratando de imóvel da União, insuscetível de usucapião ou desapropriação”.
A postura dos órgãos porquê o Ministério Público será fundamental para sabermos se haverá ou não a perenidade do empreendimento. E a pressão popular já labareda por audiências públicas para debater o tema.
O Inema informa que o projeto tem Autorização de Supressão de Vegetação Nativa (ASV) para uma superfície de 2,9 hectares, somente 2% do totalidade da propriedade que é de 1.651 hectares para implantação de condomínio. “O projeto foi licenciado com a mais perfeita lisura e transparência dos atos adotados pelo Instituto, de congraçamento com a lei, seguindo o código florestal, atendendo a Lei da Mata Atlântica, os marcos legais e as resoluções federais e estaduais”, afirma o órgão.
O processo tramita há murado de 11 anos e, segundo o Inema, foi analisado “com todos os cuidados necessários, criteriosos estudos e relatórios de impactos ambientais, obedecendo a todas as exigências quanto a realização das audiências públicas e de diversas reuniões com as comunidades locais” e considera ainda que “pode ser considerado porquê um marco positivo na atividade turística da região, contribuindo para a preservação, através da ocupação controlada e ordenada, de baixíssima densidade, dentro dos conceitos mais avançados de construção sustentável, gerando, inclusive, ganhos e infraestrutura para a comunidade nativa”.
Turismo
O turismo é um sege director da economia da ilhota, oferecendo o tradicional passeio volta à ilhota, recebendo turistas da vizinha Morro de São Paulo, que é mais badalada e fica na mesma península, e que passam o dia na “prima” mais calma. Há ainda opções porquê a Caminhada Boipeba Roots, da Quase Nativa, que oferecem a possibilidade justamente de saber o interno da ilhota por meio de moradores-referência da localidade e locais importantes porquê a Mansão de Farinha.
Sem grandes resorts ou construções que ameacem sua tranquilidade, Boipeba foi se mantendo intocada ao longo dos anos muito por não ser tão fácil de chegar de Salvador, por exemplo, de onde o viajante vai precisar transpor o ferry boat, pegar estrada e depois um navio.
Toda a extensão da ilhota é superfície de preservação vernáculo e os moradores são considerados povos tradicionais. Há ainda a comunidade quilombola de Monte Prazenteiro, que mantem antigos costumes da pesca e mariscagem e realiza festas de cultura popular.
A vibe da ilhota atrai diferentes públicos: frequentadores de festas de réveillon de música eletrônica, passando por famílias, mochileiros e, desde o início da pandemia, os nômades digitais, que passam a viver períodos por lá. Um lugar com praias paradisíacas, marcado pela maré, que sobe e desce; pelo sol que sempre marca presença e pelas estrelas e lua, sempre refulgente e guiando caminhos.
Que Boipeba se mantenha na sua originalidade e que nenhum empreendimento ameace suas tradições e formosura. A grande força e o diferencial da ilhota são, justamente, seus moradores nativos. Que as próximas gerações possam considerar sua formosura, sem destruí-la ou descaracterizá-la.