Início Turismo Na Bulgária, os segredos do apartamento vermelho – 30/08/2023 – Zeca Camargo

Na Bulgária, os segredos do apartamento vermelho – 30/08/2023 – Zeca Camargo

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O relativamente moderno porteiro eletrônico na ingresso do prédio velho parece quase uma anormalidade. E o lugar que estava prestes a visitar mais ainda: no meio de sisudos “an. 9”, “an. 10”, “an. 11”, indicando, imagino, as campainhas dos moradores, de repente você encontra uma etiqueta onde se lê: “The Red Flat”.

Sófia, capital da Bulgária, é uma cidade austera, pintada com as tintas tristes de um pretérito idem. Mas ao tocar naquele apartamento, você já se prepara para entrar num universo um pouco mais tingido. Ainda que a cor preponderante seja o vermelho.

Esse não era, devo manifestar, meu objetivo principal ao viajar para esse país que poucos brasileiros escolhem uma vez que orientação turístico. Mas quando descobri esse lugar num aplicativo, tive de fazer um ramal de trajectória.

A teoria original era saber os belíssimos mosteiros e as ainda mais belas igrejas cristãs ortodoxas de lá, mas minha curiosidade de viajante inevitavelmente me levou para essa pequena invólucro do tempo. Um retrato bizarro de uma quadra que os próprios búlgaros talvez só consigam encarar com humor. Ou ainda, um bibelô de “ostalgie”.


Essa vocábulo deliciosa, que descobri anos detrás numa exposição genial no New Museum de Novidade York, se refere à saudade dos tempos da Europa comunista, juntando as palavras alemãs “ost” (leste) e “nostalgie” (nostalgia). E é a definição perfeita para uma visitante ao Red Flat.

Não que a Bulgária comunista fosse uma “era de ouro”, pelo contrário. Mas invertendo a história, os criadores desse espaço, que reproduz a vida cotidiana de lá nos anos 80, brinca com essa memorandum tenebrosa com a mesma leveza do delicioso filme “Adeus, Lenin!”.


As partes ruins desse período já conhecemos. E o Red Flat parece nos propor alguma coisa dissemelhante: por que não se divertir um pouco com as bizarrices de portanto?

Da apertada cozinha, onde uma folhinha de 1981 estampa paisagens gloriosas da própria Bulgária, ao ousado “quarto dos adolescentes”, é impossível circundar naquele espaço sem transfixar um sorriso. Mesmo que seja aquele do emoji feliz com uma lágrima no olho.


Na discoteca da brotolândia, por exemplo, encontramos um vinil de Madonna (ou мадона) com uma revestimento toda escrita em búlgaro, alguma coisa que eu, fã obstinado da cantora, nunca tinha visto. Ao lado, uma “moderna” calculadora de bolso do tamanho da palma da sua mão.


A sóbria sala de visitas acomoda, além de poltronas para lá de desconfortáveis, uma estante de madeira com livros e revistas de 40 anos detrás que parecem vir de um tempo ainda mais distante. Além de compartimentos escondidos com bebidas alcoólicas e (ousadia!) uma garrafa de Coca-Cola!

O banheiro apertado, para toda a família, expõe produtos originais com embalagens que fariam os apaixonados por “looks retrô” terem um orgasmo. E a TV da moradia passa sem parar o melhor da emissora estatal de quatro décadas detrás.

Visitei tudo com aquele risinho sem perdão no rosto. Mas do que exatamente eu estava rindo? Nem toda a venustidade que vi pela Bulgária consegue esconder uma nuvem carregada que paira sobre seus cidadãos.


Explorando Sófia, descobri restaurantes incríveis, lojas criativas e pessoas fascinantes. Mas há uma tristeza inerente pelas ruas, uma vez que se justamente essa memória comunista fosse não unicamente pretérito, mas muito presente.

Mas talvez seja justamente endereços uma vez que o Red Flat que libertam aquela gente maravilhosa desse peso da história. E permitem que a gente conheça a Bulgária com um olhar generoso —que é exatamente o que vamos fazer da próxima vez que nos encontrarmos por cá.


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