The New York Times
Numa manhã recente de junho no Brooklyn, Novidade York, Chloe Sarre quase pegou no sono, deitada em uma maca numa sala aconchegante enquanto uma maquiadora usava uma agulha mergulhada em pigmento líquido semipermanente para cuidadosamente pungir 20 pontos microscópicos espalhados por suas bochechas.
Keila Cummings, maquiadora e co-proprietária da Browstress, um estúdio de tatuagem cosmética, usava um lenço umedecido para retirar o excesso de pigmento. O som de Ali Gatie cantando “Used to You” percorria seu estúdio no décimo andejar de um prédio no bairro de Dumbo.
“Não dói zero”, comentou Sarre, 35 anos, treinadora de fitness para mulheres e residente do Brooklyn. “Honestamente, depilação de sobrolho dói muito mais que isso.”
Antes de chegar ao estúdio, Sarre usara um lápis de sobrolho para riscar pontinhos no rosto, querendo aderir à tendência mais recente de formosura que milhares de pessoas nos Estados Unidos vêm experimentando: tatuagens de sardas. Disponíveis no formato de corações, estrelinhas ou até signos astrológicos, as marcas preenchidas com melanina viraram a preocupação mais recente no TikTok –sendo que, no pretérito, quem tivesse sardas era níveo de zombaria nos pátios escolares.
As sardas tatuadas são criadas com o mesmo pigmento usado para o microblading (micropigmentação) de sobrancelhas, outro tratamento cosmético em que pigmento semipermanente é tatuado na superfície da pele. O efeito do microblading é deixar as sobrancelhas mais espessas e cheias.
O procedimento seguido para tatuar as sardas artificiais leva uma hora e é menos doloroso e permanente que uma tatuagem tradicional. As sardas duram entre oito meses e dois anos, dependendo do tipo de pele, da exposição ao sol e da frequência com que a pessoa faz esfoliação. O tratamento custa pode custar entre US$ 200 e US$ 500 (entre R$ 970 e R$ 2.430 aproximadamente), dependendo do lugar e do número de sardas.
As sardas tatuadas começaram a fazer sucesso por volta de 2018, comentou Krystal Cummings, 36, mana gêmea de Keila e có-proprietária da Browstress. Ela contou que aprendeu a fazê-las a pedido de uma cliente.
“Ele me disse para vincular para ela quando eu começasse a fazê-las –não se eu começasse”, contou Krystal, que tem o nariz enroupado de sardas que ela própria tatuou.
Ex-telefonista do 911, Krystal abriu a Browstress em 2018. Ela aprendeu a fazer microblading quando sua tia teve cancro e precisou fazer quimioterapia, levando à queda dos pelos de suas sobrancelhas. Krystal assistiu a tutoriais no YouTube, praticou com ela mesma e dominou o toque necessário para fazer as sardas tatuadas parecerem naturais. “Elas precisam ser leves, com as bordas muito macias”, explicou.
Ao longo da história, as sardas frequentemente foram vistas como imperfeições. Mas essa visão mudou entre meados e o final do século 20, quando um bronzeado –e as sardas que o acompanhavam— viraram um símbolo de status, um pouco que assinalava uma vida de lazer, comentou Kimberly Chrisman-Campbell, historiadora da voga especializada no período moderno inicial.
Na dezena de 1990, graças à padrão Twiggy e à cantora Jane Birkin, além do movimento cultural “youthquake” dos anos 1960, as sardas começaram a ser associadas a uma aspecto juvenil. No início da dezena de 2000, passaram a ser bem-vistas nas passarelas e campanhas de publicidade. E, em 2018, a decisão de Meghan Markle de adotar um look mais originário em seu conúbio com o príncipe Harry levou a uma onda de imitadoras buscando dotar-se de sardas.
Nos últimos anos, a subida do TikTok e a transparência de influenciadoras que fazem tratamentos cosméticos levaram procedimentos porquê as tatuagens de sardas a um público maior.
No caso da Browstress, disse Krystal, a maioria das clientes ouviu falar das tatuagens pelo boca a boca, buscas na internet ou redes sociais.
É simples que nem toda a repercussão é positiva. Há várias postagens de mulheres que ostentam pontos vermelhos vivos logo após o procedimento, que algumas pessoas podem pensar equivocadamente que serão o resultado final. Saki Lee, artista do Brooklyn que também faz tatuagens de sardas, disse que é por isso que em sua conta no Instagram ela só compartilha imagens dos resultados finais, quando os furinhos já fecharam.
A inflamação pior geralmente desaparece em dez minutos, disse Lee, mas em pessoas com pele clara, a vermelhidão pode se prolongar por mais tempo. No caso de muitas clientes, imediatamente depois o procedimento, a única coisa que se nota é que suas bochechas parecem estar levemente queimadas de sol.
Terminado o procedimento, Keila aconselhou Sarre a não se expor ao sol e não esfoliar o rosto por entre cinco e dez dias.
E Krystal destacou mais uma coisa: “Keila te falou que você não vai poder trabalhar por uns três dias?”.
“Vocês não mencionaram isso”, respondeu Sarre, que, trajando leggings pretas, Crocs e uma camiseta que absorve a transpiração, parecia estar a caminho de fazer exatamente isso. “Por quê?”
“Se você suar, o pigmento vai transpor”, disse Krystal.
Sarre chegou a um combinação: ela poderia malhar, mas com moderação, e sauna estaria fora de cogitação. Ela posou para algumas fotos, admirando suas novas manchinhas.
As tatuagens levam murado de 15 dias para sarar e, a partir da primeira semana, começam a clarear até chegarem a um tom castanho aloirado, disse Keila. Algumas podem desvanecer por completo.
“Uma ou duas podem sumir, mas podemos refazê-las”, ela disse.
As gêmeas frequentemente optam por um tom simples demais, antes de amplificar mais sardas ou escurecê-las, conforme o libido da cliente.
Pergunto se alguém já pediu para removê-las. “Nunca”, disse Krystal. “Na veras, as pessoas quase sempre querem fazer mais.”
Tradução de Clara Allain