Início Turismo Por que os gringos odeiam farofa? – 13/09/2024 – Cozinha Bruta

Por que os gringos odeiam farofa? – 13/09/2024 – Cozinha Bruta

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Se houvesse uma Despensa do Mundo da comida, que prato representaria o Brasil?

O Japão chegaria possante com o sushi. Os Estados Unidos escalariam o hambúrguer. A Itália, grande potência nesse esporte, levaria a pizza.

Cá na América do Sul, o Peru seria bastante competitivo com o ceviche. E nós? Que comida é a faceta do Brasil para o resto do mundo? Já tentamos muitas vezes emplacar a feijoada uma vez que prato vernáculo, mas há de se permitir que ela é um péssimo resultado de exportação.

Vários de seus ingredientes só existem no Brasil. O negócio, convenhamos, não tem uma figura assaz simpático. As partes menos populares do porco criam repudiação automática numa parcela considerável da humanidade.

O que realmente pegou no estrangeiro foi o rodízio de churrasco. Tem rodízio brasiliano em qualquer cidade grande dos EUA e da Europa. Aí surgem alguns complicadores. Primeiro, churrasco não é um prato: é um método de preparar comida, existente em toda sociedade que conheça o queimação. Segundo, rodízio é somente um sistema de serviço.

Por último, mas não menos importante, a churrascaria rodízio só faz sucesso no exterior. Cá, onde foram enormes nos anos 1990, já estão em declínio há bastante tempo. O rodízio não representa o Brasil destes dias.

O que sobra? Pão de queijo? Não é prato, é merenda para consumir com moca. Açaí? Poupe-me.

A farofa merece vistoria mais detalhado. Está presente no Brasil todinho, com um sem-número de variações possíveis. A farinha de mandioca tem seus trocentos subtipos: grossa, fina, finíssima, flocada, farinha d’chuva, farinha crua, farinha torrada. Mas também dá para fazer farofa de milho ou de pão velho.

Da banana ao ovo, da uva-passa aos miúdos de frango, a farofa aceita qualquer complemento.

A farofa é genuinamente vernáculo. Isso pode ser encarado uma vez que uma vantagem —a identidade única— ou uma vez que um empecilho para transcender a brasilidade.

Não conheço nenhum gringo que goste de farofa. Todos a acham seca, não veem sentido naquele montinho de farelos áridos. A farofa nasceu da urgência de preservar víveres no calor morfeico que faz no Brasil. Menos chuva significa um envolvente hostil para bactérias.

Fica sedento, mas a gente mistura com feijoeiro, com vinagrete, pega líquido de outra comida qualquer. E a gente adora a textura crocante. Enfim, a farofa não teria chance na hipotética Despensa das comidas. Mas ainda muito que comida não é competição. Se os gringos não querem farofa, o má sorte é deles.


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