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Os negacionistas da picanha – 18/08/2023 – Cozinha Bruta

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Negacionistas estão entre nós desde sempre, mas nunca foram tão aparecidos. Sequer tinham esse nome até poucos anos detrás.

Usada para rotular quem se nega a comportar fatos óbvios, a vocábulo circula desde que começaram a transpor notícias a saudação do aquecimento global.

Vieram a reboque os brucutus que querem torrar a Amazônia porque não faz diferença. Os pilantras retóricos, a soltar rojo cada vez que qualquer lugar registra insensível recorde –a prova da conspiração ambiental esquerdista.

A pandemia da Covid-19 trouxe um surto mundial de negacionismo. Negaram a eficiência da vacina. Negaram a própria existência da doença, uma gripezinha.

A luta quixotesca contra a verdade tem a ver com tepidez de caráter e déficit cognitivo, geralmente uma combinação de ambos.

Tem mané que se recusa a ver a inflexão da Terreno. Tem otário a manifestar que ajudante de ordens não obedece a ordens, não ajuda e, muito pelo contrário, atrapalha.

A temporada 2023 nos apresentou os negacionistas da picanha. Eles rejeitam um indumento evidente: o preço da carne despencou depois que Bolsonaro saiu da presidência.

Há de se observar que o desenrolar dos acontecimentos foi particularmente cruel com essas pessoas.

Primeiro, na campanha, Lula falou que o brasileiro voltaria a comer picanha. Típica fanfarronada de candidato. Exibição de gogó em que Lula sempre foi virtuoso.

Os derrotados não esperaram uma semana do novo governo para tocar o furdunço nas redes sociais. Cadê a picanha? Era metáfora? Prometeu picanha, entregou mandioca. Olha só, você foi ludibriado.

Falaram cedo demais, pobres-diabos.

Eis que mês vai, mês vem, e os preços da mesocarpo de vaca caem brutalmente. O quilo da picanha, que já bateu nos cento e tantos reais, foi para cinquentinha, quarenta e cinco e baixando.

De súbito, os negacionistas da picanha se tornaram doutores em anatomia bovina. Onde já se viu picanha de quilo e meio? Picanha tem, no supremo, um quilo. Tá barato porque é coxão duro.

Não adianta mostrar que o peso da picanha é proporcional ao peso da carcaça –e os bois de agora são maiores do que seus ancestrais do século 20.

Adianta menos ainda esgrimir que as picanhas já tinham esse tamanho no ano pretérito. Fosse coxão duro, o preço teria derribado na mesma proporção.

Caiu por quê? Por que caiu?

Foi o Lula? Foi a privação de um maluco incendiário na presidência do Brasil? Foi a safra de grãos? Foi ajuda divina? Foi uma mariposa que saiu voando no Nepal?

Sei lá, pouco importa. A miséria ainda grassa, a polícia mata a torto e a recta (e à esquerda, também), o Ministério do Namoro foi um engodo, o Brasil tem um tonelada de problemas sem solução.

Mas a picanha ficou barata, uma vez que o varão disse que ficaria. Impossível ignorar esse indumento.

Aos negacionistas da mesocarpo: abstenham-se dela e não deem moral para o descondenado. Comam queijo com muito ódio. Está mais custoso do que filé mignon e subindo. Só pode ser culpa do luladrão.


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