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O terrível macarrão que cheira a ração de cachorro – 08/02/2023 – Cozinha Bruta

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Já tem mais de meio ano que me recuperei da Covid. Fiquei doente em junho de 2022, quando as mutações do vírus já haviam serenado a mortalidade.

Não tive pânico de morrer quando covidei. Minha grande preocupação eram as alterações de olfato e paladar –dois sentidos muito importantes para minha atividade profissional e, muito, para eu fazer as coisas que paladar.

Meus sintomas, de início, foram iguais aos de uma gripe geral. Depois percebi que estava lerdo do pensamento. Na segmento sensorial, fiquei alguns dias sentindo paladar amargo onde não tinha amargo. Passou rápido. Achava que tinha sido poupado.

Eis que, algumas semanas detrás, primícias a implicar com o cheiro de um tanto que sempre cozinhei: macarrão. O cheiro da volume na chuva fervente, e não de qualquer volume: só sentia o odor estranho quando cozinhava macarrão italiano de trigo durum, o grano duro. Uma sensação ligeiramente repugnante.

Passei toda a minha vida cozinhando macarrão desse tipo. Para mim, era um manjar neutro. Nunca tinha notado nenhum cheiro relevante até portanto.

Eu achei que o problema era com uma marca que eu vinha usando bastante. Testei outra marca. E outra. O cheiro persistiu. Uma noite, deitado para dormir, me passou pela cabeça que o odor do macarrão talvez fosse da minha cabeça. Uma sequela da Covid.

No dia seguinte, escrevi um post a reverência disso no Twitter. Muita gente comentou, muita gente mesmo passou ou passa por coisa semelhante ou pior.

Um perfil que se identifica por Élio perguntou: “Seria um odor semelhante ao de ração canina?”.

Pronto. O “ligeiramente repugnante” acabava de lucrar um upgrade. Era isso mesmo.

Imediatamente o cérebro me remeteu à rua principal do bairro Portão, em Atibaia, onde as lojas de produtos para sítio competem pelo cheiro mais possante de ração de cachorro.

Voltando ao Twitter, o post rendeu vários relatos interessante.

Pedro contraiu Covid em 2020 e até hoje tem altíssima sensibilidade para o cheiro de gás de cozinha.

Fernando começou a ter nojo dos cheiros de mesocarpo e frango cozinhando.

Rodrigo diz que sua mulher não consegue perceber o odor de comida queimada.

Zé agora acha que moca cheira a mato queimado. E passou a detestar coentro, que antes adorava. Já Mikasa não consumia zero que fosse amargo –e agora gosta de moca.

Elaine passou a sentir cheiro de barata –é – nos mais requintados perfumes.

Beth, que passou um mês internada em 2021, sente aromas que não estão lá. Cheiro de tintura para cabelo quando não há nenhuma por perto.

Wagner ficou seis meses sentindo odor de cigarro sem ninguém fumar.

Ana, que amava camarão, agora não suporta mais.

Maria Eduarda abandonou a Coca-Cola, que para ela ficou com paladar de ferrugem.

Edu, cozinheiro e proprietário de bar, perdeu a mão com o sal. Seus pratos ficam insossos ou salgados demais.

Dizem que a disfunção olfativa se chama parosmia, é muito geral na recuperação da Covid e pode porfiar vários meses.

Com a Covid se tornando uma doença crônica, teremos uma turba permanente de gente embaralhando os cheiros e gostos. Porquê o chef vai tratar o cliente que sentiu cheiro de carniça no bife? E se, na verdade, é o chef que está sequelado e fritou um bife podre sem perceber?

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