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Churrasco de cachorro e porcos de estimação – 08/12/2023 – Cozinha Bruta

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Na minha idade de faculdade, todo aluno de jornalismo aprendia a prestígio do inusitado para definir o que merece ser incluso no noticiário.

Velhos professores costumavam recitar um clichê: “Cachorro morde varão” não é notícia; “Varão morde cachorro” é.

A inversão da ordem habitual desperta o interesse do público –um pouco muito egrégio do interesse público, mas essa é outra discussão.

Criado profissionalmente no escandaloso Notícias Populares, fiquei surpreso com a repercussão quase nula, no Brasil, de um drama existencial que abala a Coreia do Sul.

O governo lugar está tentando, pela enésima vez, banir o abate e o consumo de cães. Mesocarpo de cachorro é uma tradição fomentar entranhada na cultura coreana, um pouco que não desaparece facilmente.

Donos de fazendas caninas planejaram um protesto em que 2 milhões de animais seriam despejados para vagar pelas ruas de Seul. A polícia, por enquanto, conseguiu evitar a soltura dos caramelos.

É o lugar-comum do primeiro semestre de faculdade materializado e turbinado: milhões de homens mordem milhões de cachorros. Ainda assim não virou ponto cá, por falta de atenção dos colegas ou pelo intenso desconforto que o tema suscita.

O incômodo assombra os sul-coreanos desde que a região traçou a meta de se inserir, cultural e economicamente, num cenário global pautado pelos valores do Oeste.

Eles fabricam TVs de 700 polegadas, alguns dos melhores celulares do mundo, produzem filmes fantásticos, emplacaram trocentos grupos de K-pop e… comem lulus-da-pomerânia. O consumo de mesocarpo canina é incompatível com a imagem de modernidade que a Coreia do Sul vende internacionalmente.

A maior secção dos coreanos trata seus cãezinhos feito crianças mimadas, com ração premium e tosquia na pet shop.

Alguns, todavia, seguem almoçando cachorro e mais: reproduzem o cardápio nos países para onde emigram. Fora da lei, naturalmente.

Tenho pessoal interesse pela cultura e pela alimento da Coreia. São Paulo deu a sorte de reunir uma numerosa comunidade coreana e, por tábua, muitos bons restaurantes típicos.

Poucas vezes cometi a impropriedade de mencionar a frase “mesocarpo de cachorro” para integrantes dessa comunidade. Recebi de volta caras fechadas, silêncio e desconversa. Não esperava mais do que isso.

Os coreanos que fazem churrasco de cão em sigilo talvez não saibam que o uso persiste residualmente em algumas partes da Suíça. Ou que açougues de mesocarpo canina funcionaram na França até o prelúdios do século 20.

De cachorro para porco: por que um é camarada e o outro é comida? Essa é uma pergunta, por demais perturbadora, que provocadores veganos fazem insistentemente ao resto da população.

Porcos são tão espertos quanto os cães. Criados adequadamente, tornam-se ótimos animais de estimação, mas pouca gente topa a risota. Onde já se viu passear com bacon na coleira?

A pergunta dos veganos não tem resposta, ela nos coloca numa sinuca de ponta. Um dia, o incômodo que ela nos traz será convertido em tensão social palpável, porquê ocorre agora a Coreia com seus totós comestíveis.


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