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Em outra era geológica, quando a gastronomia ainda era um luxo inacessível para a maioria –vejam o quanto o mundo mudou!–, uma revista especializada tinha uma seção fixa com uma pergunta que era mais ou menos assim: “O que você comeria antes de ser levado ao pelotão de fuzilamento?”.
Era uma pergunta retórica, evidentemente. A tal última repasto guarda um simbolismo gigantesco. Tanto que é oferecida, com recta à escolha do cardápio, para os prisioneiros do corredor da morte nos Estados Unidos.
Na revista dos anos 1990, a pergunta era dirigida aos chamados gourmets –o termo ainda não caíra no ridículo–, famosos ou nem tanto.
O protótipo clássico de resposta envolvia um prato impossível de ser replicado no Brasil, numa trattoria que só o ilustre gourmet conhecia, num vilarejo do Piemonte ou da Toscana, tão remoto e insuficiente que nem nos mapas figurava.
Volta e meia alguém saía do personagem e recorria de roupa à memória afetiva: feijoada, sanduíche de mortadela, cocada tenro. É a escolha típica dos condenados americanos, mesmo porque pode ser perigoso pedir um tanto mais sofisticado do que um frango frito para o cozinheiro do xilindró.
Numa estudo apressada, eu iria nessa toada. Pediria um pê-efe clássico, com arroz, feijoeiro e alguma mistura.
Trouxe o tópico à baila porque tive a sensação, nos dias de seca e fumaça, que o apocalipse não é mais conversa de profeta maluco.
Mas o fim do mundo não chega de supetão, porquê nos filmes, com um meteoro ou a hecatombe nuclear.
Se a devastação ambiental não retroceder –tenho zero esperanças–, a dizimação da espécie humana será demorada e excruciante. Provavelmente deixará sobreviventes numa sociedade tribal ao estilo de Mad Max.
Quando o planeta vira um micro-ondas, ninguém quer nem pode se dar ao luxo de uma repasto gourmet. A memória afetiva também vai pro beleléu.
Vamos querer e precisar de um tanto refrescante. Provavelmente teremos tanta sede quanta miséria.
Por isso, minha escolha final é um gaspacho, sopa fria de origem espanhola. Mas dei uma mexida, troquei alguns ingredientes para a receita permanecer com jeitão de bloody mary –suco de tomate com vodca, meu coquetel predilecto.
A vodca é opcional, mas convenhamos: com o apocalipse torando lá fora, ninguém vai dar a mínima se você encher a rosto na hora do almoço.
GAZPACHO BORRACHO
Rendimento: 2 porções
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 10 a 15 minutos
Ingredientes
1 pão galicismo amanhecido
150 ml de chuva
500 g de tomate maduro
2 dentes de alho
1 talo de salsão
Ervas frescas a sabor (manjericão, tomilho, alecrim)
Suco de ½ limão-siciliano
100 ml de óleo
2 doses (120 ml) de vodca (opcional)
Molho inglês, molho de pimenta, sal e pimenta-do-reino a sabor
Modo de fazer
1. Pique o pão e deixe-o molificar na chuva por 5 minutos.
2. Cozinhe o alho por 30 segundos no micro-ondas. A casca vai transpor facilmente e o sabor ficará mais suave.
3. Lave muito muito os vegetais (lembre-se: você vai comê-los crus).
4. No liquidificador, roupão o pão molificado, o alho, o tomate, o salsão, as ervas, o suco de limão e a vodca até obter um creme liso. Despeje o óleo em fio enquanto termina de fustigar.
5. Transfira para um recipiente e tempere com molho inglês, molho de pimenta, sal e pimenta-do-reino.
6. Sirva imediatamente, com croutons, talo de salsão ou uma rodela de limão para enfeitar.
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