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Argentina: Sem-teto vivem em aeroporto de Buenos Aires – 28/05/2023 – Mundo

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“Coma sem culpa”, diz a embalagem do pacote de batata frita que um colega de Hernán Osvaldo acaba de trazer da mesa ao lado. “As pessoas cá têm quantia, dão uma mordida assim e jogam fora”, diz, dando uma dentada no ar, segurando um hambúrguer imaginário. “Mas para a gente vale muito.”

Os sobras de fast food são tudo que o varão de 38 anos tem comido desde que se mudou para a lajedo do Aeroparque Jorge Newbery, há seis meses. O aeroporto internacional fica a poucos minutos do coração de Palermo, um dos bairros mais caros de Buenos Aires, e é a porta de ingressão de muitos turistas brasileiros à Argentina.

Com a piora da crise econômica e o crescimento da pobreza, o sítio virou morada para quem não tem onde morar, uma vez que publicou o jornal O Orbe. São dezenas de pessoas dormindo nos salões e corredores por meses e até anos, em cena que lembra as marquises dos centros de capitais uma vez que São Paulo e Rio de Janeiro, em menor graduação.

O policial Lisandro Nuñes estima que ao menos 50 sem-teto vivam permanentemente ali, mas calcula que à noite o número passa de centena. “Quando comecei a trabalhar, há um ano, já era assim, mas se intensificou nos últimos meses”, diz ele, vestindo o colete laranja da Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA).

Esses moradores começaram a chegar em 2021, quando o aeroparque reabriu depois de quase um ano fechado pela pandemia de Covid. Hoje, a concessionária Aeroportos Argentina 2000, que administra o sítio, tem uma lista para controle com os nomes dos habitantes mais fixos —a Folha não conseguiu contatar a empresa durante o feriado no país.

Laura Día, 53, por exemplo, já vive ali há um ano e meio, porque os hotéis pagos pelo governo em que morava não aceitam seu “perrito” Toto. O vira-lata caramelo que ela labareda de rebento passa os dias dentro de uma bolsa, porque não pode permanecer solto dentro do aeroporto.

“Peguei os 26 milénio pesos da minha pensão [R$ 270 na cotação paralela, que rege o cotidiano local], guardei 16 milénio e com o resto comprei isso aí para ele”, diz ela enquanto arruma o banco onde dorme.

Laura é cadeirante, por isso prefere o segundo marchar, já que no primeiro não há onde sentar. É nesse piso, próximo ao embarque pátrio, que a maioria se concentra, estendendo papelões e cobertas no solo para isolar o indiferente e usando os carrinhos de bagagem uma vez que suporte para seus pertences. Num quina, as malas servem ainda de palhoça para um varão dormir separado do vaivém de passageiros.

Alguns viajantes olham sem entender, enquanto a maioria passa apressada pelos corredores lotados em meio ao feriado pátrio do Dia da Pátria, sem nem ver a quantidade de gente que dorme embaixo de escadas rolantes, diante de letreiros dos voos e nas cadeiras ao lado de quem carrega o celular.

A inflação argentina, que não para de subir e já ultrapassa 100% anuais, faz o peso liquefazer e coloca uma parcela da população cada vez maior inferior da traço da pobreza. Em somente um ano, de 2021 para 2022, o índice subiu dois pontos percentuais, de 37% para 39%.

Dentro desses 19 milhões de pobres, quase 4 milhões são indigentes: ou seja, não têm renda suficiente para nível mínimo de alimento. Os dados do Indec (Instituto Pátrio de Estatística e Censos) são do segundo semestre, e as expectativas são de que aumentem neste ano.

O mesmo deve suceder com as aferições de pessoas em situação de rua. Em 2022, o instituto contou quase 3.000 no país, no primeiro recenseamento do tipo. Mas ONGs e instituições uma vez que Defensorias Públicas estimam números muito maiores, perto dos 10 milénio.

Para verificação, as últimas contagens feitas por prefeituras brasileiras apontam quase 32 mil sem-teto apenas na cidade de São Paulo e 8.000 no Rio, em números também considerados subestimados. Pesquisadores da Universidade Federalista de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, calculam 206 mil em todo o país.

Roberto Bernal, 36, é um dos que devem espessar as estatísticas futuras na Argentina. Ele terminou a escola e trabalhou a vida toda uma vez que pedreiro, pintor e fazendo bicos na província de Missiones, na fronteira com Paraná e Santa Catarina. Conta que viajou ao Brasil diversas vezes e que adora Florianópolis.

Mas há meses deixou de encontrar trabalho, também por seus antecedentes criminais, e resolveu deixar a família para procurar tarefa em Buenos Aires. Chegou no aeroporto há três dias, seguindo a recomendação de um colega pela segurança e pela proteção do indiferente —o inverno se aproxima, e as temperaturas começam a tombar a 8°C de madrugada.

“Vou vincular para conhecidos que talvez tenham trabalho, para transpor dessa situação”, diz ele sentado do lado de fora do aeroporto ao lado de Hernán, que come os sobras de batata frita. Detrás, suas camisetas secam num vaso de vegetação. Ele tem lavado roupa e tomado banho num meio de guarida na Villa 31, uma favela próxima.

“Não fazemos zero porque não é proibido dormir no aeroporto, só não deixamos eles pedirem comida ou quantia cá dentro”, afirma o policial Lisandro. O que não quer proferir que a convívio seja totalmente tranquila: “Às vezes acontecem alguns furtos”.

A cadeirante Laura também reclama de discriminação. Diz que a funcionária da limpeza se recusou a limpar o banheiro preferencial para ela. “Preciso ir para um hotel que aceite o Totó, não posso mais permanecer cá”, lamenta, com a voz embargada. O valor do auxílio não alcança um aluguel, que custa mais de 50 milénio pesos (murado de R$ 500).

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