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A masculinidade frágil dos fãs de pimenta ardida – 30/06/2023 – Cozinha Bruta

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Leio que Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federalista, está sendo processado por obrigar funcionários a comer pimenta.

Pois quanta surpresa. Quem diria que o sujeito, enroscado em acusações de assédio e destruição de patrimônio público, seria capaz de tão sagaz gracejo?

Pedroca tem expertise no bullying. Além de meter pimenta no prato de quem não pediu pimenta, teria chamado de “bambi” um subordinado que espremeu limão na comida para tentar dissimular o ardido. O veado da Disney é um xingamento homofóbico dirigido a torcedores do São Paulo Futebol Clube.

Conclui-se aí que Pedro Guimarães atribui uma certa falta de macheza a quem prefere não encarar uma repasto enxurrada de pimenta, dor e sofrimento.

O pior é que ele não está sozinho nessa cretinice. Existe um sentimento entranhado nos homens heterossexuais de que a tolerância a comidas muito picantes está relacionada a coragem, valentia e perseverança. Em última estudo, à firmeza de caráter que todo másculo deveria ostentar para honrar o saco.

Pimentas furibundas entram na mesma categoria dos carrões mastodônticos, motos barulhentas, cervejas muito amargas, falar palavrão, salivar no soalho e o boi no rolete. Uma sinalização pública de virilidade.

Ou de alguém com instabilidade doentia, temor de ser desmascarado nas suas delicadezas. A tal da masculinidade frágil de que tanto se fala.

Todo o marketing dos molhos de pimenta explora o potencial ofensivo do resultado. São atributos positivos adjetivos porquê flamejante, ardente, vulcânico, nuclear, apocalíptico e infernal.

Tem uma marca paulista que vende uma pimenta chamada Ardência no Regaço. Porquê se fosse bacana a sensação de expelir lava pelo fiofó.

Criou-se uma graduação numérica para dimensionar o estrago que uma pimenta pode acarretar nas nossas mucosas. Atentos ao sucesso da propaganda incendiária, pimenticultores desenvolvem variedades explosivas da vegetal. Todo ano sai uma novidade pimenta mais ardida do mundo.

Toda hora tem alguém se exibindo no Youtube em qualquer desfio de pimentas. Nem mulheres escapam do surto de estupidez.

É difícil ignorar a tentação primitiva de vencer a pimenta. Você supera a dor, rompe amarras sociais e zomba da velocidade da existência humana. Basta derrotar um sarapatel ou um acarajé. Só fica plano quando o acarajé vence.

Precisei recolher da pimenta por meio século até entender que ela é mais poderoso. Encarei muito sofrimento na ingresso e na saída, sem lucrar tolerância alguma.

A sensibilidade à capsaicina, formado que faz a pimenta deflagrar, varia muito individualmente. A minha é subida, e não há problema qualquer nisso.

Pimenta é um tempero fantástico. Cada variedade aporta aromas próprios, queima mais ou queima menos. Um pouco de calor é gostoso; dor autoinfligida é o masoquismo que aprendi a evitar.

Aí viajo para Salvador com o rebento de 10 anos, e o moleque quer saber se a baiana põe trinidad scorpion ou carolina reaper no acarajé.

Lá vamos nós outra vez.


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