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Safári humano na rua Oscar Freire – 05/09/2023 – Cozinha Bruta

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Salto do ônibus no Conjunto Vernáculo, desço a rua Augusta e quebro à esquerda na Oscar Freire. São quase cinco da tarde de um dia de semana qualquer, e eu me encaminho à sorveteria Bispote di Latte, onde fui chamado para o lançamento de um perceptível festival do pistache.

Quase chegando lá, ouço me chamarem do outro lado da rua. Era Oscar Bosch, chef catalão, baita cozinheiro, gente finíssima, possessor do premiado restaurante Tanit, ali mesmo.

Oi, tudo muito, tá sumido… a breve conversa me faz pensar que de indumento sumi daquelas bandas. Não só pelo meu histórico de espeleologia social (o oposto do alpinismo social) nos anos mais recentes.

Eu já não me sinto à vontade na rua Oscar Freire. Quero vazar o quanto antes. Não sei se a rua mudou, mas eu decerto mudei um tanto.

Entro na sorveteria e me oferecem um espumante, depois um negroni, zero mau para o horário. Percebo que os convidados não conversam entre si, estão todos ensimesmados na produção de vídeos de caras, bocas e creme de pistache.

São influenciadores.

Porquê meu gula e vou ao banheiro. Na saída, vejo uma mulher fazendo selfies junto à pia do lavatório. Estava na minha hora de ir. Tinha outro compromisso no núcleo, o metrô era meu fado.

Logo dou de rosto com a esquina mais incômoda da chique Oscar Freire, a da rua Peixoto Gomide. Lá tem um predinho bonito, mas todo escalavrado, pichado, detonado. Sua história não é nada bela.

Uns 15 anos detrás, um investidor comprou todo o prédio para transformá-lo em hotel boutique. Todo não, perdão: dois moradores se recusaram a vender. A empresa, portanto, teria chamado um grupo de sem-teto para invadir o prédio e forçar a saída dos rebeldes.

Não sei do fado dos antigos moradores, mas os sem-teto ainda estão lá, lesão purulenta na branca tez dos Jardins.

Ando mais um pouco e passo por um transacção que se define porquê bolacharia gourmet.

No moca em frente ao hotel Emiliano, toneladas de gente branca falando português e inglês, às vezes misturado.

No quarteirão seguinte paro para finalmente testar o cachorro-quente do PoPa, que produz artesanalmente tudo o que vai no sanduíche: o pão, a salsicha, a mostarda, o ketchup.

Enquanto devoro meu dogão gourmezaço (é, sim, tão bom quanto dizem), sou reconhecido por uma mulher em outra mesinha.

“Você tem aquele programa na TV?”

“Tenho, sim.”

“Logo, você está com a barba enxurrada de parmesão ralado.”

Mais uma deixa para seguir andando.

Na mesma quadra, relíquias vivas da gastronomia paulistana: a primeira filial do Almanara fora do núcleo da cidade e o Frevo, que a especulação empurrou para o outro lado da rua.

Tenho flashes de esfihas e beirutes, de almoços de família quando, ao menos na minha cabeça, aquela região não era tão besta. Ou eu era mais besta, dá na mesma.

Andando à minha frente, um par de cariocas está deslumbrado com a manutenção do pavimentação. “Poderia ter lajeada assim em todas as ruas do Leblon, não”?, diz ele para ela.

Do meu lado recta, o camelódromo mais ajeitado que já vi na vida. Cá é Jardins, tá ligado?

Alguns passos adiante, sou abordado outra vez, agora por uma assessora de prelo que não via desde o tempo em que fui editor de revista masculina. Ela me labareda para saber a loja de um importadora, que está sendo aprontada para uma degustação de vinhos.

Não me convida para permanecer. Eu não poderia permanecer, de qualquer modo.

Apresso o passo na direção da avenida Rebouças.

Percebo que, a cada quadra que progressão, cresce o número de pessoas caminhando na mesma direção, em passo ainda mais apressado.

São funcionários de lojas, salões de formosura, pet shops, estúdios de pilates e clínicas de harmonização facial. O combustível da máquina do Jardins.

Na rosto do metrô, um mercado Dia% para abastecer a volta dos trabalhadores. E o infalível carrinho de milho com margarina.

É muito variada a gastronomia da rua Oscar Freire.


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